Uma aula de história do ballet | O Ballet Parou no tempo?

Uma aula de história do ballet | O Ballet Parou no tempo?

Hoje vamos de uma breve aula de história da dança e do ballet!

Eu já ouvi algumas pessoas soltarem a seguinte frase: “O Ballet parou no tempo, ficou no passado, não evolui mais!” Será mesmo? Será que não há mudanças no ballet até os dias atuais?

Eu acredito que é um ledo engano esse tipo de pensamento e aqui eu vou trazer algumas evoluções que o ballet teve ao longo de toda a sua história.

Primeiramente, trago para vocês o vídeo gravado para o meu canal do YouTube e logo abaixo o texto por escito.

1. Quem dança ballet?

Parece uma pergunta meio boba para os dias de hoje. Mas, a verdade é que lá no início dos tempos do ballet, ele era dançado majoritariamente por HOMENS! Parece inimaginável, mas até o reinado do Luis XIV não tínhamos mulheres bailarinas. Inclusive os papéis femininos eram dançados por homens vestidos de mulheres.

Em pensar que hoje é comum (embora esteja melhorando) que homens que façam ballet sofram algum tipo de preconceito. Antigamente era o contrário: não era bem visto uma mulher dançar publicamente.

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Em 1681 a primeira mulher dançou ballet publicamente nos palcos. Mademoseille La Fontaine dançou o ballet Le Triomphe de l’amour e, mesmo assim, por um tempo os homens continuaram sendo a maioria nos palcos.

Com o “Reglement Concernent L’Opera”, Luis XIV tornou ser bailarino uma profissão, que poderia ser exercida, tanto por homens quanto por mulheres (sendo que na época homens ganhavam mais do que mulheres).

Posteriormente com a Era Romântica, que no ballet também trouxe a exaltação da figura feminina é que a mulher passou a ser a figura central dos ballets – ela ganha os papéis principais e o homem passa a ser secundário.

Com a Era Petipá, ambos, homens e mulheres, vão ter papéis de destaques nos ballets. Não precisa um se sobrepor ao outro. Ambos vão ser solos, variações e juntos vão dançar pas de deux. Uma grande mudança também com Petipá é sobre o corpo de baile. Antes desse mestre, o corpo de baile era um pano de fundo; com ele, vai ter também o seu papel importante de integrar o ballet. Um exemplo é o corpo de baile do Reino das Sombras de La Bayadere, um dos mais famosos de Petipá.

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Outra mudança relativa a quem dança é quanto a cor da pele. Antes, o ballet era restrito aos brancos. Nos dias atuais já vemos grandes bailarinos negros encantando o público. Isso porque o ballet, quando começou era restrito às classes mais altas e servia como uma distração para o Rei. Hoje, já não é mais assim e podemos ver bailarinos das mais diversas etnias se destacando mundo a fora.

2. Meias calças e sapatilhas de diversas tonalidades

Como decorrência de bailarinos de diversas etnias estarem dançando ballet, as marcas estão se atentando a isso e já podemos ver meia calça e sapatilhas, tanto de ponta quanto de meia ponta de outras tonalidades além do rosa e do salmão. O que faz total sentido, pois elas devem cumprir a função de deixar as linhas das pernas das bailarinas e bailarinos mais alongadas, e isso só acontece se elas forem da mesma tonalidade da pele. E isso é maravilhoso pois inclui ainda mais gente no mundo do ballet clássico!

3. Sapatilha de ponta e ponteira

O primeiro ballet dançado nas pontas foi justamente na Era Romântica, da qual falamos acima brevemente. Elas foram o símbolo da leveza feminina e era para isso que elas serviam.

Se hoje com todas as tecnologias, possibilidades de inúmeras marcas diferentes, ponteiras e proteções diferentes, já é difícil subir nas pontas, imagina antigamente com as pontas de madeira e sem ponteira?

Hoje temos pontas feitas de tecido com colas, de polímero, com variações de box, de gáspea, de palmilha…. É tanta opção que cada bailarina tem a sua que agrada mais. Antes você dançava com o que tinha e dava o seu jeito para subir. Mas, como uma consequência, não se ficava nas pontas por muito tempo. Era por breve momentos, apenas para reforçar o lado etéreo das personagens femininas e para parecer que a bailarina estava flutuando.

4. Figurinos

Lá no início, o ballet era dançado com roupas muito volumosas e sapatos com pequenos saltos. Já pensou? Nosso grande mestre Noverre, começou o movimento de simplificar o volume dos figurinos, tirar os saltos dos sapatos e as máscaras dos bailarinos.

Dá para imaginar que com toda essa roupa volumosa e com esses saltinhos nos pés não era possível executar tantos passos, não é? Além de volumosas, as roupas eram muito cumpridas e pesadas. No caso das mulheres só era mostrado um dos pés.

Na foto temos La Carmago, a bailarina que fez a primeira diminuição no cumprimento das saias (que foi até a altura dos tornozelos) para executar pequenos saltos e baterias, como por exemplo, os cabrioles. Antes dela, somente homens executavam esse tipo de salto.

Depois, com a Era Romântica, o cumprimento manteve-se o mesmo, mas mudou o tecido, que passou a ser tule, um tipo de saia mais leve, justamente para reforçar o lado etéreo das personagens femininas, trazer também mais leveza e facilitar a movimentação. Nasce o tutu romântico que usamos até hoje.

Na Era Petipá, outra inovação nos figurinos: começa a nascer os primórdios do que hoje conhecemos como tutu bandeja. Isso porque o mestre valorizava a técnica clássica e suas coreografias tinham movimentos de ainda mais exigência. Inclusive foi na Era Petipá que uma bailarina (Pierina Legnani) fez os 32 fouettés no palco pela primeira vez).

Com Balanchine, mais mudanças: surge o tutu balanchine, e as túnicas. Seus ballets não usam apenas um tipo de figurino. Todos eles são uma possibilidade, a depender do tipo de coreografia.

5. Corpo de bailarina

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Para as bailarinas profissionais, muito se fala que ela tem que sera alta, magra e longilínea. Mas será que isso sempre foi assim e que isso é uma regra absoluta?

Digo com toda certeza que NÃO!

Acima temos a foto da Pierina Legnani, uma das grandes estrelas do ballet clássico do século XIX. Na época, o padrão de beleza eram bailarinas um pouco mais rechonchudas.

No Brasil, uma das primeiras a ser reconhecida como um físico longilíneo foi a nossa diva Cecília Kerche; no mundo, Anna Pavlova, que inclusive uma das suas marcas eram seus pés arqueados.

Nos dias atuais vemos que o físico alongado não é o principal. Temos como exemplos Ana Botafogo e Marianela Nuñez. Com certeza outros fatores eu acredito que fazem elas se destacar como bailarinas, como o carisma, a interpretação e a presença de palco. Até hoje não há um brasileiro, mesmo que não entenda nada de ballet que não sabe quem é Ana Botafogo.

As companhias, ao contratar um bailarino não vai olhar só para o tipo físico, mas para as suas capacidades enquanto artista.

Elas vão ter sim as suas exigências em relação ao físico (mesmo não sendo o mais importante), mas para dançar como um hobby, isso é totalmente diferente: você vai dançar se tiver o físico que tiver.

6. Novos ballets de repertório

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La Fille Mal Gardée foi o primeiro ballet de repertório já criado e tem muita gente que acha que hoje, no século XXI já não se cria mais ballets de repertório. Mas não é bem por aí.

Um exemplo disso é o ballet “Alice no país das maravilhas” criado pelo Royal Ballet em 2011.

7. Exigências técnicas

Como decorrência das exigências técnicas ficarem maiores, as sapatilhas tiveram que acompanhar esse nível de exigência. Antigamente as pernas não subiam muito acima de 90 graus num developpé, num arabesque, e muito menos tínhamos um penché zerado. Hoje temos saltitos na ponta, múltiplas piruetas sem a ajuda do partner e pernas altíssimas. Uma coisa acompanhou a outra.

Outra coisa que também andou junto foi: o tipo de figurino e a possibilidade de se executar mais passos. Depois de La Camargo, podemos ver mulheres executando os saltos, por exemplo, como já dito.

8. Aula de ballet

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A aula de ballet tem uma sequência lógica, com barra, centro, diagona, pliés, tendus, grand battements, saltos… Isso em si não teve grandes mudanças.

Mas, pelas exigências físicas que os passos passaram a cobrar dos bailarinos, a aula de ballet teve que sofrer mudanças para acompanhar.

Antes tínhamos aulas de barra mais longas; hoje as aulas são mais dinâmicas, com menos tempo de barra, mais de centro e uma maior preocupação com a preparação física dos bailarinos.

 

Podemos ver aqui várias mudanças no ballet ao longo do tempo!

Espero ter sido um post interessante para vocês!

Vejo vocês no próximo!

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