Tudo sobre o Ballet Coppélia

Tudo sobre o Ballet Coppélia

Exatamente no dia de hoje, num dia 25 de maio, só que de 1870 estrearia mundialmente o ballet Coppélia, então vamos nos aprofundar nele?

O ballet Coppélia é um ballet cômico de 2 atos e 3 cenas, com coreografia originalmente feita por Arthur Saint-Leon, música de Léo Delibes e libreto de e Charles-Louis-Étienne Nuitter, baseado em 2 histórias de ETA Hoffmann: Der Sandmann e Die Automate. É um ballet cômico justamente por seu enredo e é também marcado por mis-en-scénes e divertssiments que passam alegria ao público.

Na data de sua estreia mundial, ambos os papéis principais foram interpretados por mulheres ( Giuseppina Bozzachi fez o papel da Swanilda e Eugenie Fiocre se travestiu de homem para interpretar o papel de Franz). Isso porque o ballet Coppélia marca uma grande crise no ballet francês, da qual já falamos aqui no blog neste post aqui. Lembremos bem rapidamente que a gloriosa e glamurosa estava perdendo as suas grandes estrelas femininas e no ballet masculino não havia grandes nomes de destaque. Mas, vamos relembrar tudo isso neste post um pouco mais abaixo quando falarmos do contexto da criação deste ballet.

Vamos ver quando falarmos do enredo, que a Coppélia, personagem que dá nome ao ballet, na verdade, é a boneca e não a personagem feminina principal. Esta é Swanilda, que faz par romântico com o jovem Franz. Mas, falaremos agora mais sobre a história desse jovem casal.

1. Enredo

O primeiro ato do ballet se inicia na praça numa vila de fronteira na Galícia Austríaca. Há várias casas nessa praça. Uma delas, a de Dr. Coppelius se destaca, das outras em razão das suas janelas baixas, com grades e porta maciça.

Uma jovem espia pela janela do sótão de uma das casas. Um pouco depois ela sai de sua habitação e, certificando-se de que não está sendo vigiada, esgueira-se para a casa de Coppelius e olha para a janela onde está sentada uma jovem que parece ler um livro. Swanilda se interessa por essa moça, que dizem ser filha de Coppelius, e o motivo desse interesse é acreditar que seu namorado, Franz, está apaixonado por ela. Swanilda procura atrair a atenção da moça, mas não consegue.

Agora começa a ouvir passos e se esconde. Surge Dr. Coppelius numa das janelas baixas, ao mesmo tempo em que Franz se dirige às ocultas para a casa misteriosa, e manda um beijo para Coppélia, que parece responder e logo volta a se sentar precipitadamente.

Swanilda, fingindo não ter visto nada, corre atrás de uma borboleta. Franz se junta a ela e apanha o inseto, que, triunfalmente, prende à gola com um alfinete. Swanilda censura-o pela infidelidade e lhe pergunta se prefere Coppélia a ela. Franz protesta energicamente, mas a jovem recusa a escutá-lo e declara que não o ama mais.

Neste momento, uma alegre multidão enche a praça e o burgomestre (cargo equivalente a prefeito) anuncia que o castelão ofertou um sino à vila, e isso será celebrado com uma festa, que será realizada no dia seguinte. Ele sussurra ainda a Swanilda que nessa ocasião muitos casais se unirão e que a todos serão dados dotes; então pergunta-lhe, se ela também vai se casar.

Ela responde que ainda não e, apanhando uma pequena espiga de trigo, leva-a ao ouvido e passa-a a Franz. “Ela não está dizendo que você deixou de amar-me?”, indaga. Franz replica que nada ouve. Swanilda apresenta, então, a espiga a um dos amigos de Franz e ele, rindo-se, afirma que pode ouvir perfeitamente. Franz protesta, mas a namorada parte as hastes do trigo e diz que tudo está acabado entre eles.

Franz vai embora atormentado, enquanto Swanilda dança uma czarda com as amigas. Cai a noite e os jovens vão embora. Coppelius sai de casa e imediatamente um grupo de rapazes o empurra de todos os lados, procurando obrigá-lo a dançar, e o velho leva algum tempo para poder se desvencilhar daquelas inoportunas atenções.

Swanilda, ao dirigir-se para casa em companhia de algumas amigas, vê uma chave no chão, defronte à porta de Coppelius. Apanha-a e mostra-a às amigas, que sugerem uma visita à misteriosa mansão. A moça abre a porta e todas entram.

Essa cena do ballet é bem conhecida: é o momento em que Swanilda e todas as amigas entram na casa com muito medo e a última delas chega a pensar em não entrar, mas acabam todas entrando na casa. É uma das partes cômicas do ballet.

As jovens mal desapareceram e Franz surge com uma escada e a coloca na janela da casa de Dr Coppelius. Assim que começa a subir os degraus, volta Coppelius à procura da chave. Deparando com Franz, dá largas à sua indignação e o rapaz, alarmado, pula para o chão e tenta fugir.

Neste momento se encerra o primeiro ato e começa o segundo ato do ballet!

Esse segundo ato começa na oficina de Dr Coppelius. Nessa oficina há vários bonecos mecânicos em diversos estágios de construção diferentes espalhados. As amigas e Swanilda adentram a oficina escondidas; elas estão desconfiadas e temerosas, incertas do que se encontra nas sombras vacilantes. Swanilda puxa a cortina da janela e deixa ver Coppélia, ainda sentada na cadeira com um livro na mão. Swanilda cumprimenta-a, fala-lhe, mas não obtém resposta. As amigas ficam espantadas. Swanilda toca no braço da dona da casa, que está completamente frio; coloca a mão no coração de Coppélia, mas ele não bate. Assim, a jovem descobre que Coppélia é uma boneca! Swanilda e as amigas se divertem com o que acabaram de descobrir, especialmente a primeira, que promete a si mesma um belo despertar para Franz.

Seus receios se desvanecem, e as amigas intrusas põem os bonecos em movimento. De repente, Coppelius, furioso com aquela invasão, precipita-se pelas escadas acima e persegue as moças, que, gradativamente, lhe escapam e descem as escadas correndo, menos Swanilda, que se esconde atrás da cortina da janela.

O velho vai inspecionar sua preciosa Coppélia e verifica que nada aconteceu à boneca. Ouvindo barulhos, ele olha pela janela e vê Franz subindo a escada. Coppelius oculta-se, mas logo que o rapaz pula para dentro da sala, agarra-o e pergunta-lhe o que pretende, introduzindo-se assim clandestinamente em sua casa.

Franz confessa que está apaixonado. Coppelius faz pouco caso e convida-o a tomar um copo de vinho, que é aceito. O velho não bebe, mas sempre encontra modos de encher continuamente o copo do rapaz, e este, em pouco tempo adormece.

Nesse meio tempo, atrás da cortina, Swanilda pôs o vestido da Coppélia e tomou o seu lugar. Coppelius resolve por em prática uma experiência que já preparava há tempos: colocar em sua inanimada criação, Coppélia, a força vital de Franz.Para isso, faz a Coppélia diversos feitiços de acordo com os preceitos estabelecidos num livro de magia que possui. Em breve, para a sua grande satisfação, ela se levanta da cadeira, deixa cair o livro, e, lentamente desce de seu pedestal. Aos poucos, anda com menor rigidez e suas feições, até então inexpressivas, adquirem mobilidade. Ela sorri e começa a dançar uma valsa.

Em seguida se torna caprichosa; tenta beber vinho, vira as páginas do precioso livro com o pé, agarra uma espada, com a qual atravessa o mouro, e prepara-se para fazer o mesmo em Franz, mas Coppelius fica alarmado e consegue pará-la, embora já ache difícil lutar contra suas constantes fantasias. O velho fabricante põe em suas mãos um pandeiro e ela executa uma dança espanhola; depois apanha uma manta escocesa e dança uma jiga. Coppelius procura agarrá-la, mas ela lhe foge, destruindo tudo em sua passagem.

Enquanto isso, Franz acorda e tenta coordenar os pensamentos. O fabricante de brinquedos alcança Coppélia, força-a a se sentar em sua cadeira, e a empurra para atrás da cortina. Logo após se dirige ao Franz e o obriga a sair pela janela.

Agora Coppelius é surpreendido por um curioso zumbido, em que reconhece a corda que regula os movimentos de Coppélia. Puxa a cortina e vê a boneca sentada, rígida, como de costume. Nesse momento, Swanilda escapole, colocando em movimento mais dois bonecos.

Coppelius vai até a janela e vê Swanilda de braço dado com Franz. Meio confuso, desconfiado de que foi ludibriado, o velho desmaia no meio de suas figuras de molas, que parecem zombar dele com movimentos mecânicos.

Neste momento começa a segunda cena do segundo ato do ballet.

Os padres benzerão o sino e agora os casais que vão se casar são apresentados. Agora Franz e Swanilda já acabaram com suas desavenças e se reunem com com os casais.

Coppelius abre caminho entre os presentes e exige uma indenização pelos prejuízos causados aos seus inventos. Swanilda, que acaba de receber seu dote, o oferece ao velho. O fidalgo, entretanto, diz-lhe que o conserve para si, e anuncia que compensará qualquer perda sofrida pelo fabricante de brinquedos. Após colocar uma bolsa de dinheiro na mão do velho, o nobre sobe para a plataforma e dá sinal para que se iniciem os festejos.

O sineiro é o primeiro que desce do carro, e chama as horas matinais, que entram seguidas da Aurora, rodeada por pequenas flores silvestres. O sino toca a hora da prece. A Aurora foge, acompanhada pelas horas do dia. Tecelões e segadores começam a trabalhar.

O sino toca novamente anunciando um casamento, e aparece Himeneu, seguido por um Cupidinho. De súbito toca o sino e o fogo reflete-se no céu. Logo, porém, tudo está calmo de novo e o bronze avisa a volta da paz.

O último divertissement leva o ballet a seu fim.

2. Contexto da Criação

Coppélia é um dos primeiros, senão o primeiro ballet que tem por base o tema de uma boneca que ganha vida. O libreto foi adaptado por Charles Nuitter, então arquivista da Ópera de Paris, e que tirou dos conto de Hoffmann, Der Sandmann e Die Automate .

Foi por volta do final de 1866, ou início de 1867, que Nuitter começou a trabalhar em Coppélia, e para a protagonista já tinha em mente a jovem bailarina Léontine Beaugrand, que começava a brilhar.

A gerência aprovou o tema e, tendo Léo Delibes composto a partitura, a obra foi posta em ensaios. Entretanto, Émile-César-Victor Perrin, o diretor da Ópera e um sagaz homem de negócios, presentiu que a fama de Beaugrand (foto acima) não era suficiente para atraiar a grande assistência essencial ao bom êxito. Ele queria um nome, uma estrela, que, na certa, chamasse o público.

Lembrando que, como já falamos no post sobre a crise do ballet francês que estava ocorrendo nessa época, a Ópera de Paris estava já sem as suas grandes estrelas femininas de outrora. Pois, Marie Taglioni havia se aposentado dos palcos; Lucille Grahn, que tinha sido aluna de Agust Bournonville, voltou para a Dinamarca; Carlota Grisi foi com o marido à época, Jules Perrot, para São Petersburgo, onde trabalharam juntos, e fez turnês pelo mundo; Fanny Cerrito foi com o marido, Arthut Saint-Leon, para a Russia. Este último casal ficaria junto por apenas 6 anos, e depois cada um seguiria seus caminhos separados.

Na época da estreia de Coppélia, as mais jovens estrelas românticas eram Fanny Cerrito, que estava com 53 e Carlota Grisi que estava com 51 anos de idade! Elas já tinham abandonado os palcos, quando o ballet veio à tona.

Chegou a ter uma esperança de nova estrela para a Ópera quando Emma Livry começou a se destacar, sendo treinada por Marie Taglioni. Mas relembro também a sua trágica morte após sua roupa queimar nas lâmpadas à gás durante os ensaios de um ballet. Acaba a chance de Paris lançar mais um nome ao estrelato e não há grandes nomes do ballet, tanto do sexo feminino quanto do sexo masculino.

Então, o grande nome escolhido por Perrin foi a bailarina russa Adèle Grantsova, que chegou a começar a ensaiar a coreografia confiada a Arthur Saint-Léon. No entanto, os ensaios se prolongaram tanto que ela se machucou e se viu obrigada a retornar ao seu país, sem se quer ter dançado o papel para o qual tinha sido contratada. Beaugrand foi de novo preterida em favor agora de Giuseppina Bozacchi (primeira foto dessa parte), jovem bailarina italiana que fazia parte da Companhia. O ballet, após 3 anos de ensaios, foi finalmente apresentado no dia 25 de maio de 1870, e a obra e seus principais intépretes alcançaram um grande sucesso.

Pelo fato de Bozacchi ter apenas 16 anos na época, o coreógrafo teve que modificar a coreografia, facilitando e adequando os movimentos à técnica da jovem bailarina. Ela não se tornou um “monstro sagrado” da dança, como suas antecessoras do romantismo, mas colaborou com sua técnica, para o sucesso da obra, estimulando o coreógrafo a trabalhar com virtuosismo.

Um outro fator que indica a ausência de grandes estrelas na Ópera de Paris é que o papel masculino de Franz foi interpretado por uma bailarina travestida de homem, a Eugenie Fiocre. Se já faltavam grandes nomes para interpretar o papel feminino, para papel masculino a situação era ainda pior. Não havia se quer um bailarino capaz de interpretá-lo. Franz ser uma mulher travestida de homem se tornou praticamente uma tradição. O papel só passou a ser interpretado por homens apenas muito tempo mais tarde.

Bozacchi, apesar de jovem encantou a crítica, mas seu triunfo foi de curta duração. Isso porque em 19 de julho estourou a guerra franco-prussiana e Paris ficou sitiada. Giuseppina veio a falecer de febre tifóide, agravada em razão da fome, justamente no dia do seu aniversário de 17 anos.

Poucos meses depois da estreia do ballet, outra tragédia aconteceu. O coreógrafo Arthur Saint-Léon veio a falecer aos 49 de uma crise cardíaca, em decorrência da exaustão.

Após tudo isso, em 16 de outubro de 1871, finalmente foi a vez de Beuagrand brilhar! Nesta data ela teve o papel de protagonista para o qual fora idealizada originariamente. Sua leveza, sua técnica precisa, o ritmo de seus movimentos, e sua mímica petulante e vivaz lhe renderam um grande sucesso.

Mesmo apesar de todas as tragédias, Coppélia continua sendo um enorme sucesso de público até os dias de hoje.

3. Versões do Ballet Coppélia

  • A primeira versão do ballet foi a que tratamos até o momento, que estreou em 25 de maio de 1870, com coreografia de Arthur Saint-Léon, libreto de Charles Nuitter e música de Léo Delibes. Para os papéis principais, ficaram encarregadas as bailarinas Giuseppina Bozacchi como Swanilda e Eugenie Fiocre como Franz.

  • Coppélia  só foi estrear na Inglaterra, 36 anos após a sua estréia mundial na Ópera de Paris. Ele foi apresentado no Empire Theatre de Londres, em 14 de maio de 1906. Nesta ocasião, Adeline Genée (foto acima) interpretou Swanilda. O Royal Ballet encenou Coppélia pela primeira vez em 21 de março de 1933 e teve Lydia Lopokova como Swanilda. Esta encenação foi a versão de Nicholas Sergeyev baseada na revisão do século XIX por Lev Ivanov e Enrico Cecchetti. Posteriormente, Dame Ninette de Valois dançou Swanilda na versão de 1933 de Sergeyev. Em 1954, de Valois criou sua própria versão baseada nas versões russas de Coppélia .

 

  • Coppélia foi trazido para a Rússia pelo Ballet Master, Joseph Hansen, que primeiro encenou o ballet para o Imperial Bolshoi Ballet em Moscou no dia 5 de fevereiro de 1882. No entanto, é da edição do final do século XIX encenada por Petipá para o Ballet Imperial de São Petersburgo, derivado de quase todas as versões modernas de  Coppélia . A primeira apresentação do revival de Petipá foi encenada em 7 de dezembro de 884 para a apresentação beneficente da Prima Ballerina russa Varvara Nikitina. Nunca se saberá se Petipá manteve alguma coreografia original de Saint-Léon ou se ele estava familiarizado com ela para começar, embora seja muito mais provável que Petipá encenou o ballet inteiro em seu próprio projeto. No entanto, ele certamente segue a direção original do palco no que diz respeito às cenas de ação e à mímica.

 

  • Coppélia  foi revivido pela segunda e última vez nos Teatros Imperiais em 1894 para a atuação beneficente de Pierina Legnani. No entanto, ao longo de 1892-1894, Petipá estava sofrendo de uma grave doença de pele e não podia se irritar com os ensaios e / ou coreografar novos ballets. Durante sua ausência, Lev Ivanov e Enrico Cecchetti foram encarregados de conduzir os dançarinos aos ensaios e supervisionar as revivificações de obras mais antigas se, por acaso, o contrato de uma bailarina assim o exigisse. Foi o que aconteceu quando Legnani escolheu Coppélia  para sua atuação beneficente na temporada de 1893-94.

  • Nos EUA, Coppélia foi apresentada pela primeira vez pela American Opera Company na Metropolitan Opera em Nova York em 11 de março de 1887. Marie Giuri dançou Swanhilda e Felicita Carossa dançou Frantz. Anna Pavlova fez sua estreia americana no papel de Swanilda na Metropolitan Opera em 28 de fevereiro de 1910.

 

  • George Balanchine e Alexandra Danilova coreografaram uma versão de Coppélia em 1974. Sua produção usou a história tradicional nas duas primeiras cenas, mas abandonou a terceira cena da “Dança das Horas” para uma celebração geral do ballet. Mikhail Baryshnikov chegou a dançar a versão de Balanchine. Na foto, ele e Patricia McBride em 1978.

 

  • Também em 1974 nos EUA, o cubano Enrique Martinez fez a sua versão para o ABT.

 

  • O renascimento final de Coppélia por Petipá foi notado no método Stepanov em 1904 durante os ensaios para apresentações estreladas pela  Prima Ballerina Vera Trefilova como Swanhilda e faz parte da Coleção Sergeyev.

 

  • Coppélia foi apresentada pela primeira vez na Austrália, em Melbourne, em 1913. Adeline Gennée e os membros do Ballet Imperial Russo apresentaram o ballet na noite de abertura de sua turnê australiana. Esta versão foi produzida por Alexandre Volonine, e foi complementada com música de CJM Glaser.

 

  • A primeira produção australiana estreou em 1931 em Sydney, Austrália . Esta produção foi desenhada e encenada por Louise Lightfoot e executada pelo First Australian Ballet. Os amantes do ballet australiano viram seleções do ballet, bem como produções completas e completas de companhias australianas e estrangeiras nas décadas seguintes.

 

  • Na França, em 1973 Pierre Lacotte também coreografou o ballet.

 

  • Outra versão francesa foi a de Roland Petit em 1975. Na ocasião a nossa Ana Botafogo esteve no elenco interpretando uma das amigas de Swanilda, contracenando ao lado do próprio Roland Petit, que interpretou Dr. Coppelius. No espetáculo seguinte, uma das solistas se machucou e Ana a substituiu. Essa versão foi gravada para a tv francesa e o programa teve repercusão por toda a Europa. Mais tarde, foi exibido também aqui no Brasil pela TV educativa.

 

  • Ainda na França, em 1996, Patrice Bart criou uma nova versão do ballet. Ele voltou ao conto de fadas de Hoffmann. No processo, ele trouxe alguma profundidade psicológica aos personagens do ballet. Ele até colocou um dos personagens originais de Hoffmann, o professor Spalanzani, em sua nova versão. Bart também usou música das óperas de Delibes, Le Roi l’a dit e Lakmé .

 

  • Uma versão de Coppélia foi encenada pelo Ballet Nacional da China em Pequim em 2002. As danças desta produção foram desenhadas por Par Isberg. A produção estreou no Teatro Tianqiao em 1 de maio de 2002. Wang Qiming interpretou Coppélia. A produção ficou próxima do original, mas a história foi simplificada e modernizada. Os trajes incluíam jeans para os homens e saias curtas e justas para as mulheres. Algumas das mulheres dançaram de patins. 

 

  • Em 2009, Sergei Vikharev reconstruiu Coppélia para o Ballet Bolshoi a partir dos registros do Teatro Mariinsky de 1894. Esta versão apresentou novos designs e 24 dançarinos na “Dança das Horas”. A versão de Vikharev foi encenada em Londres em 2010 como parte da turnê de verão do Bolshoi.
  • Em 2014, houve também uma versão coreografada por Ronald Hynd para o English National Ballet. Na foto temos Yonah Acosta como Franz e Shiori Kase como Swanilda dançando essa versão.

4. O Grand Pas de deux


O Grand Pas de deux do terceiro ato tem uma história muito interessante. Só depois que Coppélia  foi trazido para a Rússia é que o papel fictício de Franz se tornou um papel masculino. Por isso, foi somente com a chegada do ballet à Rússia que a peça intitulada “La Paix” passou a servir de adágio para o que hoje é um Grand Pas de deux classique.

À medida que os homens começaram a assumir o papel de Franz, que antes era interpretado por mulheres travestidas de homens, as coisas surgiram para mudar em Coppélia. Um produto interessante dessa mudança é uma variação dançada por Franz no Grand Pas deux. Muitas produções modernas usaram várias peças para a variação de Franz, mas a variação que acabou sendo usada na produção de Petipá foi usada por Sergei Vikharev em sua reconstrução de 2009. A música dessa variação não é de Delibes, mas do compositor franco-americano Ernest Guiraud, que trabalhou na Opéra de Paris na década de 1870. A variação é do ballet de um ato de Guiraud, “Gretna Green”, que estreou na Opéra de Paris em 5 de maio de 1873 e foi o último ballet a ser criado para o palco da Salle Le Peletier antes do teatro ser destruído por um incêndio no mesmo ano.

Não se sabe exatamente como essa variação acabou na Rússia. A produção de Hansen de 1882 manteve a origem parisiense de Franz como um papel fictício e o papel permaneceu como tal em Moscou até a estreia de Vasily Tikhomirov em 1896. Foi a produção de Petipá que transformou Franz em um papel para homens, mas em sua encenação de 1884, não evidências de que Pavel Gerdt teve uma variação. Parece que a variação de Guiraud foi adicionada muito mais tarde à produção de São Petersburgo entre o final dos anos 1890 e o início dos anos 1900, possivelmente na época da estreia de Georgy Kyaksht como Franz na temporada de 1895/96.

Em 1904, Petipá adicionou uma variação feminina extra ao Grand Pas de deux , intitulada  “Travail”. Essa variação acompanha a música da variação masculina da partitura de Delibes para seu ballet, Sylvia, que companhias de todo o mundo às vezes usam como uma variação inserida para Franz. Petipá arranjou e coreografou esta variação para a bailarina Dionesiia Potapenko como solo inserido para sua performance em Coppélia. Petipá menciona assistir a esta performance em seus diários, chamando uma performance de Potapenko de “horrível” e reclamando que uma crítica no jornal local disse que ela dançou bem, o que ele achou “doentio”.

5. Curiosidades sobre o Ballet Coppélia

 

1. A coreografia original foi feita por Arthur Saint-Leon, um dos principais maîtres da Ópera de Paris, que logo depois seria substituído por Petipá. Mas, tem se usado muito a versão do coreógrafo cubano Enrique Martinez, criada originalmente para o American Ballet Theater em 1968 e que se tornou uma unanimidade, adotada pelas maiores companhias do mundo.

2. O libreto de Coppélia teve como uma de suas inspirações o conto “Homens de Areia” (“Der Sandmann”) do escritor alemão ETA Hoffman. O título original do ballet seria “A menina dos olhos de esmalte” (“La Fille Aux Yeux D’Émail”) quando decidiram criá-lo em 1867, em referência à boneca que hoje intitula o ballet e que é confundida por uma menina de verdade aos olhos do personagem Franz. Mas o ballet estreou em 1870 com o título que conhecemos hoje. Já vimos no post do Quebra-Nozes que o mesmo escritor também baseou o libreto daquele ballet.

 

3. O ballet Coppélia foi criado em um momento em que a Ópera de Paris estava em crise e em decadência e foi o último ballet de grande sucesso que marcou a Era de Ouro de Paris no ballet. Após ele, o ballet francês entraria em decadência e seria a vez da Rússia brilhar com Petipá.

 

4. Coppélia foi a primeira partitura de ballet escrita integralmente por Delibes. Ele estudou com Adolphe Adam, que foi o compositor do famoso ballet romântico , Giselle , e o primeiro a usar “leitmotifs” no ballet. Delibes, como seu professor, usou “leitmotifs” para identificar pessoas e lugares em Coppélia . Swanilda tem uma valsa e Frantz tem dois “leitmotifs”. Coppélius tem um motivo que soa seco e a boneca tem um pequeno motivo que soa estranho. Música animada identifica a praça da aldeia. Música sinistra identifica a oficina de Coppélius.

 

5. Apesar dessas tragédias envolvidas após o contexto das suas primeiras apresentações, o ballet Coppélia ainda hoje é um sucesso de público e é o ballet mais representado na Ópera Garnier, o teatro da Ópera de Paris. O ballet da Ópera de Paris apresentou Coppélia 711 vezes ao longo de 90 anos.

6. Falamos que a primeira pessoa que dançou o papel de Franz, apesar de ser um papel masculino, foi a bailarina Eugenie Fiocre. Isso aconteceu na sua estreia em 1870.  E, uma mulher interpretar esse papel travestida de homem perdurou até os anos 1950 na Ópera de Paris, mesmo quando já tinham homens qualificados para o papel por ter sido uma tradição.

 

7. O papel de Franz só passou a ser um papel masculino quando o ballet Coppélia foi trazido a Rússia. Foi o grande mestre Petipá que inseriu o pas de deux no ballet em 1884, já que, como o papel de Franz era interpretado também por uma mulher, o pas de deux não seria possível.

 

8. Sua estreia mundial se deu em 25 de maio 1870 na Ópera de Paris. Aqui no Brasil foi dançado pela primeira vez em 9 de maio de 1918, apresentado pela companhia de Anna Pavlova, dançado por Wlasta Maslova e Alexandre Volvinine nos papéis principais. Em outras temporadas, a própria Anna Pavlova interpretou Swanilda. Foi dançado pela primeira vez pelo nosso Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 14 de novembro de 1951 com coreografia de Tatiana Leskova, dançada por Tamara Capeller, uma das bailarinas mais populares de seu tempo, que foi considerada uma das principais Swanildas do TMRJ.

9. Ainda falando de Brasil, foi o ballet Coppélia que marcou o início da carreira da nossa estrela Ana Botafogo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1981. Foi a primeira vez que Ana dançava nos palcos do Theatro Municipal como Primeira Bailarina. Na ocasião, seu partner foi o bailarino americano Andrew Levinson e o cubano Enrique Martinez foi o coreógrafo (a mesma versão adotada pelo ABT desde 1974 foi dançada pelo TMRJ) e também o Dr. Coppélius. Outra Swanilda de destaque antes dela, além de Tamara Capeller, foi também Eleonora Oliosi. Em 1961, foi dançando o segundo ato de Coppélia que Eleonora ganhou o segundo lugar no Primeiro Concurso Internacional de Ballet do Rio de Janeiro.

10. Na década de 40, a valsa-tema de Coppélia ficou tão conhecida que a Rádio Nacional soltava a valsa e a PRE-8 entrava no ar. Era o prefixo da novela das 20h, horário nobre e romântico. Quem viveu na época comenta que naquele horário todos estavam colados no rádio para escutar: “Senhoras e senhoritas, o Óleo de Peroba apresenta…” e aí a valsa era tocada.

11. Foi o primeiro ballet com danças a caráter fora do enredo: Coppélia apresentou Czarda, Mazurka e Polca, dando a cor local ao ballet. Isso porque Delibes apreciava a música folclórica da Europa Oriental . Ele compôs a mazurka (dança polonosa) e a czarda (dança húngara) para o ballet. A czarda de Delibes foi a primeira composta para um ballet. Outras músicas étnicas no ballet incluem um bolero espanhol e um gabarito escocês.

12. A temática deste ballet é inovadora, diferindo dos outros do estilo romântico: primeiro porque todos os personagens são reais, não tendo a fantasia chances de vitória e segundo porque a heroína demonstra e declara abertamente o seu amor pelo herói. Swanilda é uma personagem alegre e divertida e declara o seu amor a Franz. Não há aqui aquele amor inalcançável. Não há nesse ballet, ninfas, willis, sílfides (personagens etéreas) e ninguém morre, ao contrário dos outros ballets românticos com La Sylphide e Giselle. Em Coppélia o desfecho é feliz e o casal acaba junto no final!

13. Em 2011, a bailarina Mayara Magri dançou a variação no Prix Lausanne. Essa variação, além do seu solo de contempôraneo, levaram à bailarina o Primeiro Lugar deste festival internacional e também a bolsa de estudos no Royal Ballet School. Na última semana Mayara foi promovida ao cargo de Primeira Bailarina da principal companhia profissional de Londres: o Royal Ballet. Motivo de MUITO orgulho para o ballet clássico do nosso país!

6. O que a crítica disse sobre o ballet

A música do ballet Coppélia é dotada de encanto e animação muito contagiosos e inclui diversas melodias atraentes, admiravelmente apropriadas à dança. Comentando-a, o crítico de Le Fígaro comenta:

“O Sr. Léo Delibes compôs, para as três cenas de Coppélia, uma partitura notável, picante, colorida, excelentemente orquestrada… É muito difícil escrever para as pernas com um pouco de arte, gosto e estilo. Bailados como Giselle, por exemplo, não se improvisam às dúzias. O Sr. Delibes evitou o lugar-comum numa peça em que ele teria todo direito de sair-se bem”.

Sobre a jovem bailarina Giuseppina Bozacchi, declarou o crítico de Le Ménestrel:

“O título de criança prodígio deveria ser inventado para ela se do mesmo já não se houvesse abusado em tantos outros casos; embora mal tenha completado quinze anos, já é uma bailarina muito hábil, e o que é ainda melhor, em nossa opinião, é uma atriz graciosa e inteligente; acrescente-se a isso um corpinho elegante e bem proporcionado, e prometer possuir o mais belo rosto do mundo. Se ela cumprir todas as suas promessas iniciais, será uma capacidade em sua profissão.”

Nota-se nesse trecho, o talento promissor que poderia ser Bozacchi, mas infelizmente, por ocasião do destino, a bailarina não conseguiu cumprir as promessas que lhes eram esperadas.

No ano seguinte da estreia mundial, relembro que Coppélia foi finalmente revivida por Léontine Beaugrand no papel principal de Swanilda. Ela também foi fortemente elogiada e aclamada por Gautier como a sucessora de Carlotta Grisi, o que era um grande elogio, considerando ter vindo do autor de Giselle.

Em 1906, Coppélia foi apresentado em Londres pela primeira vez como já falamos. The Times assim tratou do espetáculo:

“Os londrinos acham-se tão desacostumados a seguir o entrecho de um ballet d’action que poderão ser desculpados se julgarem algumas partes difíceis de serem seguidas. Se Coppelius, o inventor de todos os autômatos, imagina que pela mímica da Sta. Genée (a intérprete de Swanilda, a rapariga que, para recuperar o afeto de seu bem-amado, finge ser a boneca que ele admira), a ideia geral se torna perfeitamente clara, e seu delicioso modo de dançar no primeiro ato, seus movimentos realmente cômicos quando finge ser a boneca, juntamente com as admiráveis posições que toma, valeram-lhe novo triunfo…”

Uma pequena observação da época, é que embora o público londrino adorasse ballet, havia grande preconceito contra os dançarinos homens – o público só os tolerava em papéis de personagens, como o Dr. Coppélius e não dançando os papéis principais. Então, assim como na versão francesa original, Franz também foi interpretado por uma bailarina.

Sobre a execução das músicas e das danças, ainda no The Times foi dito:

“De maneira geral, a execução da linda música, assim como a das danças, é admirável; contudo devemos notar que a mazurca difere das valsa, não apenas no que se refere à velocidade, mas na posição do acento secundário de cada compasso, e tal diferença não se verificou.”

Nesse trecho, vemos uma diferença entre valsa e masurca que você bailarina ou bailarino que me lê, deve levar para a sua dança! Embora ambas tenham contagens em 3 tempos, elas não se equivalem.

 

Não há nada mais a dizer sobre esse ballet.

Aguardem o próximo post sobre ballet de repertório! Eu vejo vocês lá!

Fontes Bibliográficas:

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