Olá bailarinas e bailarinos que me acompanham!
Hoje o post vai ser sobre como começou o ballet no Brasil. Decidi escrever sobre isso porque algumas vezes já escrevi sobre a história do ballet, mas nunca mencionei sobre a história do ballet no Brasil. E há menos material disponível sobre isso.
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mesmo com todos os problemas, ainda é uma das companhias de dança mais importantes do País e possivelmente por esse motivo talvez você ache que foi com ele que começou a nossa história com o Ballet Clássico. Mas a verdade é que ela se iniciou MUITO antes da construção desse magnífico teatro! Inclusive, ele não foi nem o primeiro a ser construído por aqui!
1. Antes da vinda dos Portugueses
A verdade é que a chegada dos portugueses por aqui é que impulsionou termos nosso ballet, começou a criar as verdadeiras condições para isso, mas mesmo antes deles chegarem já haviam algumas danças indígenas como as religiosas, as guerreiras, as venatórias (de caça), funerárias, báquicas (de acasalamento) ou ainda as recreativas. Mas pulemos esta parte, porque não é o foco deste blog.
Os primeiros teatros do Brasil chegaram em Minas Gerais. A Casa da Ópera, em Ouro Preto, é o teatro mais antigo do Brasil ainda em funcionamento e considerado, por muitos, o mais antigo da América Latina. Foi construído em 1769 por João de Souza Lisboa e inaugurado em 6 de junho de 1770. Foi o primeiro teatro onde mulheres se apresentaram em um palco no país.
2. A chegada da Família Real e da Família Lacombe – D. João VI e Luis Lacombe
Em 1808 a Família Real chega ao Rio de Janeiro fugindo das guerras napoleônicas e com ela, a figura ilustre de D. João VI, que, como muitos sabem, foi um grande incentivador das artes e da cultura aqui no País. Nesta época, chegam até nós as danças das cortes européias e toda a cultura daquele continente. Digamos que passou a ser “modinha” saber as danças das cortes.
Pelo mesmo motivo também vem para cá, a família Lacombe em 1811. Luis Lacombe (Joseph Antoine Louis Lacombe) vai vir da Espanha para cá acompanhado de sua esposa, Mariana Scaramelli, cantora lírica que fazia parte da comitiva de Marcos Portugal (notório músico português convocado por D. João VI a dinamizar a cena artística fluminense), e vai abrir a sua escola na Rua do Ouvidor no Centro do Rio. Este vai ser o nosso primeiro professor de dança e de etiqueta. É com Luis Lacombe que as danças da corte são pela primeira vez aqui no Brasil abertas ao público, mas vai servir mais para atender a nobreza e a aristocracia do que qualquer outra classe social.
Inclusive foi ele o primeiro a fazer um anúncio público de aula de dança no jornal (Gazeta do Rio):
“Luiz Lacombe, professor de dança, ultimamente chegado ao Rio de Janeiro, tem a honra de anunciar a todas as pessoas civilizadas desta cidade que ele se propõe a ensinar todas as qualidades de danças próprias da sociedade; todas as pessoas que quiserem fazer a honra de tomar as suas lições o poderão procurar na rua do Ouvidor, n. 82, 3º andar”
É também nesta época que começa a se desenvolver no nosso país a dança enquanto espetáculo (é desse ano de 1811 o registro do primeiro espetáculo cênico de dança e música, “I Due Rivali”, coreografado por Lacombe sobre composição de Marcos Portugal) e ainda vai ser neste período que vamos receber uma série de visitantes que vão contribuir para o desenvolvimento da nossa dança, como Auguste Toussaint, bailarino da Academie de l’Opéra e do Théâtre Porte Saint-Germain que também vai trabalhar com Lacombe, apresentando “O Triunfo do Brasil ou Elogio”, com cenários do célebre artista plástico Jean Baptiste Debret nas festas da consagração de D. João VI como rei de Portugal e Algarves, em 1818.
Já em 12 de outubro de 1813 é fundado aqui no Rio de Janeiro o Real Theatro São João, que mais tarde se tornaria o Teatro João Caetano. Poucos anos depois, em 1816, no mesmo teatro, Luis Lacombe foi nomeado “compositor de danças”, e, em 18 de janeiro de 1825, “mestre de danças da Casa Real”.
Com a fundação desse teatro, o futuro Teatro João Caetano, é que as companhias estrangeiras começam a se apresentar na corte com essas danças. Ainda não era propriamente o ballet, mas eram os seus primórdios. Ele foi palco de inúmeras manifestações artísticas, numa cidade, o Rio, em que cuja elite ansiava aprofundar seus laços com o exterior.
3. Reinado de D. Pedro II
Mais tarde, a partir de 1848, já no reinado de D. Pedro II, é que vamos começar a conhecer os grandes ballets românticos europeus (ainda não é nessa época que vamos ter nossa primeira escola de ballet com bailarinos brasileiros). É anunciada a vinda de Fanny Elssler ao Rio, mas ela não vem. Conhecemos, então, Anna Trabatoni e Eugène Finart, casal de bailarinos italianos que vieram para cá junto à Companhia Lírica Italiana. Vamos assistir em 1848 pela primeira vez o ballet La Sylphide e em 1849, Giselle. O interessante é que vamos assistir Giselle aqui um pouco depois da sua estreia mundial pela Opera de Paris (1841).
Também em 1849 vai chegar aqui a bailarina italiana Maria Baderna, aceitando um convite para se apresentar com sua companhia naquele mesmo teatro que se tornaria o Teatro João Caetano (neste momento ele chamava Teatro São Pedro de Alcântara). Ela foi uma grande bailarina que se interessou pela nossa cultura. Nas suas apresentações foram incorporando danças afro-brasileiras, como o lundu, a umbigada e a cachucha, e apesar de serem consideradas “escandalosas” para a sociedade escravista brasileira, faziam sucesso, lhe garantindo um grupo de fãs ardorosos. Seus fãs começaram a ser conhecidos como “baderneiros”, o que justifica a origem deste termo na Língua Portuguesa, e isso vai se justificar pelo tumulto que esses fãs causavam.
No final dos anos 1850, liderada pelo “Jornal do Commercio”, um jornal conservador da época, acusando o ballet clássico de ser uma escola de prostituição para senhoras e jovens e de desencadear a decadência moral das famílias e do Império Brasileiro.
É fundada neste momento em 1859 o “Alcazar Lírico“, uma casa de shows de iniciativa privada que funcionou na Uruguaiana, idealizada pelo francês Joseph Arnaud, proprietário e empresário que pretendeu dar à casa de espetáculos a feição dos cabarés de Paris. Era um teatro de variedades, nos moldes do teatro criado por Offenbach em Paris, onde a plateia era uma participante da apresentação. É nele que está as origens do teatro musical no Brasil.
O teatro Alcazar era polêmico, e muitos não gostavam dele. As bailarinas que lá dançavam eram mal vistas e eram acusadas de “mulher da vida” (prostituta). Mas, foram elas as nossas primeiras professoras de ballet.
Nessa época, em meados do século XIX, começa a surgir a ideia de que deveríamos ter um grande teatro nacional que comportasse os espetáculos de ballet e que os nossos bailarinos dançassem. João Caetano inicia essa campanha, mas de fato, quem vai dar consistência a esse projeto vai ser o dramaturgo Arthur Azevedo. É aqui que começa os primórdios do nosso Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mas isso já foi história de outro post.
– Minhas fontes:
. Livro: Balé passo a passo – Flávio Sampaio
. Wikipedia
. https://www.efdeportes.com/efd186/historia-da-danca-de-salao-irmaos-lacombe.htm
. Escola Estadual de Danças Maria Olenewa
. 8 teatros históricos em Minas Gerais
. http://heloisahmeirelles.blogspot.com/2015/11/alcazar-lyrique-um-teatro-polemico-no.html
. https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/viewFile/56852/37380