Bertha Rosanova: A Primeira Bailarina Absoluta do Brasil

Bertha Rosanova: A Primeira Bailarina Absoluta do Brasil

Hoje temos uma aniversariante que foi de extrema importância para o ballet clássico brasileiro. Ela foi a Primeira Bailarina Absoluta que tivemos!

E antes que vocês me perguntem, ao contrário de ser “Primeira Bailarina”, que é o cargo máximo que a bailarina profissional pode alcançar, “Primeira Bailarina Absoluta” é um título, que é concedido a POUQUÍSSIMAS bailarinas! Então, mesmo uma bailarina tendo um talento reconhecido pelo público, isso não é suficiente. E, não, Ana Botafogo, Marianela Nunez, Natalia Osipova e Svetlana Zakharova NÃO são Primeiras Bailarinas Absolutas!

Mais tarde, em um outro post, vou trazer a lista completa para vocês. Mas, hoje, vamos nos ater à aniversariante do dia! Vou contar toda a sua história, incluindo como ela ganhou esse título de tanto reconhecimento.

1. O Início da Carreira de Bailarina

Bertha Rosanova, nasceu em Santos, no Estado de São Paulo, no dia 31 de agosto de 1930; ou seja, se estivesse viva, estaria completando hoje 91 anos! Na verdade nasceu com o nome de Bertha Rozenblat, e era filha única de imigrantes judeus vindos da Polônia para o Brasil. Seus pais fugiram da Polônia para o nosso país por causa do nazismo. Bertha foi bailarina professora e ensaiadora.  

Em 1938, com apenas 8 anos de idade, entrou para a Escola de Bailados do Theatro Municipal, hoje Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), tendo aulas com as professoras Luiza Carbonell e Maria Olenewa.  

Aos 9 anos, estreou na ópera Maria Tudor, do compositor Carlos Gomes, dançando com Américo Pereira.  

Em 1943, com apenas 13 anos de idade, entrou para o Corpo de Baile Oficial do Theatro Municipal por meio de uma seleção, tendo grandes professores como Yuco Lindenberg, Igor Schwezoff, Madelene Rosay, Leonide Massine, Aurélio Millors, Willam Dólar, Tatiana Leskova e Eugenia Feodorova. 

Uma curiosidade é que a própria Maria Olenewa sempre acreditou no potencial e incentivou muito a nossa aniversariante do dia, e foi inclusive quem lhe deu o nome artístico, passando de Bertha Rozenblat, para Bertha Rosanova.  

Aos 15 anos, em 1945, despontou como a Primeira Bailarina do Theatro Municipal, sendo Igor Schwezoff o responsável pelo grupo.

De 1947 a 1949, Bertha integrou o elenco do Ballet da Juventude, criado por Igor Schwezoff. Após, retornou ao Theatro Municipal, já sob a direção de Tatiana Leskova. Em 1953, viajou com a companhia do Theatro Municipal para Montevidéu. De 1958 a 1986 trabalhou na EEDMO como professora convidada de técnica clássica.

O ano de 1959 é o que a tornou a “Primeira Bailarina Absoluta”, que vamos falar no próximo tópico.

2. Título de Primeira Bailarina Absoluta

O título de “Primeira Bailarina Absoluta” veio em 1959 após a sua interpretação do papel de Odette-Odile no “Lago dos Cisnes”. Essa foi a primeira montagem desse ballet na América Latina, sob o comando de Eugenia Feodorova. Neste espetáculo, encantou o público com a forma que utilizou para destacar as diferenças entre os dois cisnes. Aldo Lotufo dançou o papel principal do Príncipe Siegfried, e com este bailarino, Bertha formou o casal de partners perfeitos. A química entre os dois no palco era única, tendo dançado várias vezes juntos, como em “Romeu e Julieta”.  

Sobre o título recebido de primeira bailarina absoluta (ou “assoluta”), ele é exclusivo de artistas considerados perfeitos e, com Bertha Rosanova, ele foi inédito no ballet brasileiro. Fato interessante também é que Bertha, mesmo não tendo o biotipo de bailarina magérrima (dá para ver pelas fotos de que ela foi uma “bailarina de coxas grossas”), encantava a todos por sua técnica e interpretação e até hoje ainda é uma de nossas mais importantes bailarinas. 

Além disso, pela execução do Lago dos Cisnes, Bertha é empossada como Primeira Bailarina do Corpo de Baile Carioca, abrindo as portas aos artistas nacionais e rompendo a lógica do estrangeirismo do nosso ballet. Nessa época, o conceito da(o) bailarina(o) como trabalhador no país vincula-se apenas ao estrangeiro; o vocabulário da nossa dança é internacional, pois desembarcam aqui bailarinos russos, húngaros, poloneses, tchecos, espanhóis e franceses em busca de oportunidades artísticas ligadas ao poder público. Coloniza-se um jeito de dançar, prática assimilada desde a chegada da corte portuguesa em 1808. Ela, então, mostrou que bailarinos brasileiros também eram capazes de dançar profissionalmente nos nossos palcos.

Bertha fez parte do conjunto de artistas responsáveis pelo ensino da dança clássica no Brasil, que não segue apenas os modelos estrangeiros. Fez parte da linhagem do ballet acadêmico e viveu os primórdios da dança brasileira oficial, promovida na EEDMO e no Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em meados do século XX. Bertha, bem como seus colegas, é herdeira desse pensamento que dá início à construção, no Brasil, de um modo de operar a dança vinculado à mescla de nacionalidades.  

Foto retirada do blog https://www.tutu4love.com.br/

A nossa aniversariante inclusive fez parte de um time de peso do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na foto acima, temos o Grand Pas de Quatre com coreografia de Jules Perrot e música de Cesare Pugni, dançado pelas bailarinas Tamara Capeller (recordista de cortinas), Beatriz Consuelo, a grande Tatiana Leskova e a nossa Bertha Rosanova, dançado em 1953. Esse ballet era a essência do romantismo e geralmente só é dançado por grandes estrelas.

Bertha Rosanova recebeu também três vezes a Medalha de Ouro das Associações dos Críticos Teatrais, como melhor bailarina brasileira, em 1948, 1951, e 1959. Sempre com enorme sucesso de crítica e público, excursionou por diversos países da América do Sul, França, África do Norte e Suíça. 

Durante os anos 1950, dançou em teatro de revista com o colega David Dupré (1928- 1973). Viajou com ele à Europa, em 1957, para dançar com a companhia de José Torres e Mariane Ivanova. Apresentaram Dom Quixote em Parisusando os pseudônimos Ofélia e Ivan. E foi nesse mesmo ano que ela fundou sua escola de dança, que vamos falar no tópico seguinte.

3. Fundação de sua Própria Escola de Dança

Fato é que foi na década de 1950, depois de já estar casada, Bertha mudou-se para o bairro cari­oca de Laranjeiras, onde sem­pre morou. E, em 1957, fundou no pri­meiro e ter­ceiro andar, a sua própria escola de dança, Studio de Ballet Bertha Rosanova, onde lecionou por mais de 40 anos.

Conjuntamente com a sua escola de dança, atuou como professora convidada de técnica clássica na EEDMO, de 1958 a 1986, e, a partir da década de 1960, assumiu a função de ensaiadora das solistas do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.  

Em 1970, ano em que o Theatro Municipal fechou para reforma, apresentou-se com o CBTMRJ no Chile (Santiago) e na Argentina (Buenos Aires e Córdoba). Em 1981, recebeu homenagem do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, promovida por Dalal Achcar, diretora da companhia. Em 1983, recebeu o Prêmio Pedro Ernesto, da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. O Ballet Helfany Peçanha e Jânia Batista homenagearam-na na reabertura do Theatro Municipal de Niterói, em 1985. Em 1993, foi nomeada chefe do setor de dança da Secretaria Municipal de Cultura de Teresópolis. Em 2000, recebeu novamente o Prêmio Pedro Ernesto da Prefeitura do Rio de Janeiro.  

Vítima de câncer nos brônquios e nos pulmões, estava internada desde uma sexta-feira, 10 de outubro de 2008, numa clínica da zona sul. Neste mesmo dia foi homenageada em um grande espetáculo no Teatro Municipal, mas não chegou a ver a homenagem. Três dias depois, no dia 13 de outubro de 2008, Bertha não resistiu e faleceu aos 78 anos de idade.  

As habilidades técnicas e o profissionalismo de Bertha estão presentes na bailarina, professora e ensaiadora, e seu legado incentiva uma geração de bailarinos. O trabalho desenvolvido por Rosanova tem continuidade por meio de sua filha, Ava Rozenblat, que também foi bailarina do TMRJ, e até hoje dá aulas no Studio Bertha Rosanova e revigora o pensamento de Bertha sobre a formação e a arte da dança.  

 

Fontes:

http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa455550/bertha-rosanova

https://www.anabotafogomaison.com.br/serie-grandes-nomes-bertha-rosanova/

https://www.recantodasletras.com.br/biografias/4757461

https://studiobertharosanova.com.br/depoimentos  

 

E essa foi o post de hoje!

Espero que vocês tenham gostado de conhecer a história dessa bailarina incrível!

Até o próximo post!

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